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trabalho final de graduação

ilha anastácio

 

orientador angelo bucci

equipe paula saito

ano 2015

banca examinadora cristiane muniz, marcos acayaba

 

 

link do trabalho online 

http://issuu.com/paulasaito/docs/ilha_anastacio_tfg_paulasaito/1?e=12201798/13745528

 

 

 

Este trabalho é uma reflexão, por meio principalmente da leitura de cartografias;  de um plano urbano e um projeto de edificação, sobre uma vila operária de imigrantes do Leste Europeu, que nasceu como ilha do Rio Tietê antes do aterramento e canalização de seus meandros e permanece até hoje com seu traçado de ruas original.

 

A Vila Anastácio era, em sua origem, a entrada de São Paulo para quem vinha de Campinas e Jundiaí, na época em que a Antiga Estrada de Campinas foi construída e possuía ponte sobre o Rio Tietê. Até hoje permanece ilhada pela topografia: o desnível de 16 metros em relação ao Alto da Lapa e de seis metros e meio em relação às linhas férreas. O bairro inicia-se onde as duas ferrovias, a Santos-Jundiaí e a Sorocabana, bifurcam e é delimitado pelas duas ferrovias e o Rio Tietê retificado.

 

No final do século XIX foi construído o canal do Rio Tietê que trouxe para o lado do centro da cidade a porção de terra que pertencia a Pirituba. Nessa mesma época foi transferido o pátio das oficinas da São Paulo Railway da Luz para a Lapa. A terra escavada para a construção da Estação da Luz foi utilizada para a construção do aterro do Pátio da Lapa que dividiu a várzea do Tietê, separando a Lapa de Baixo da porção de terra que viria abrigar o loteamento da Vila Anastácio em 1920. Este pátio ferroviário que possui hoje entrada pela Vila Anastácio e abriga a MRS, a Alstom e galpões da CPTM, abrigou a primeira indústria de trens do Brasil e ali foram produzidos também os primeiros trens do metrô de São Paulo. Em 2015 este pátio foi tombado pelo Conpresp.

 

O casario do bairro de 1920 permaneceu quase inalterado desde sua origem, tanto na configuração de suas ruas, quanto no aspecto geral de seu casario, com casinhas geminadas e pequenas e um pequeno comércio de bairro em suas ruas centrais. Os terrenos por onde passava o meandro do Rio Tietê que foi canalizado e teve suas várzeas aterradas, no entanto, sofreu transformação drástica que reconta a história geral das várzeas do Rio Tietê ao longo da história. Inicialmente rio e área de lazer, esses terrenos uma vez aterrados servem à indústria nacional. Mais tarde, quando o transporte ferroviário é substituído pelo rodoviário, dão lugar a galpões de logística de caminhões. Hoje estão sendo substituídos por mega empreendimentos imobiliários residenciais de alto e médio padrão que estão sendo ainda construídos e devem ficar prontos em 2016.

 

A partir do estudo da mudança geográfica e de ocupação do bairro foi elaborado um plano urbano que propõe a retomada do meandro do rio antigo, abrindo canais para a passagem dos córregos aterrados e um caminho verde que mantêm as árvores já existentes nos terrenos ao longo desse percurso. Além disso, o plano propõe uma linha de campos de futebol de várzea ao longo de um dos canais e a reconversão das antigas indústrias e galpões que ainda resistem à especulação imobiliária em equipamentos de cultura e lazer, tão insipientes no bairro e seu entorno.  Sugere uma ponte de pedestres e ciclistas que liga a Vila Anastácio a Pirituba, restabelecendo a relação bairro-bairro que era tão mais forte com o outro lado do rio do que com os bairros vizinhos por terra. Esta ponte é proposta onde antigamente havia uma ponte que configurava a entrada principal do casario do bairro, fazendo também a conexão entre o percurso dos canais e o Parque Toronto, passando pelo parque projetado para a área tombada do Casarão do Anastácio. O plano também propõe uma ligação em nível entre a Lapa de Baixo e a Vila Anastácio, passando por baixo da linha férrea que vai para Jundiaí. Por último o plano prevê um projeto de remodelação da estação de trem Domingos de Moraes e da passarela de pedestres que liga o Alto da Lapa à Vila Anastácio. Este projeto se propõe a encontrar uma alternativa de entrada e saída do bairro ao caos rodoviário que já é parte do dia-a-dia dos moradores e que se intensificará com os novos empreendimentos imobiliários e a reconstrução da ponte sobre o Rio Tietê na Avenida Raimundo Pereira de Magalhães que irá escoar todo o tráfego de Pirituba para a Lapa passando pela Vila Anastácio. 

 

O projeto anexa ao percurso da estação e da transposição da linha férrea também um outro programa, que é um centro de memória do bairro. No fluxo intenso de ir e vir da estação de trem, o pedestre desce e sobe as escadas que vencem os 16 metros de desnível entre os dois bairros, por dentro de um museu do bairro, de onde ele pode ver a exposição do museu através dos vidros e no térreo entrar e conhecer com mais calma a história desse lugar que parece ter sido congelado no tempo e que agora sofre o risco de ser desfigurado e esquecido. O projeto é então, mais do que uma transposição e um novo acesso à estação de trem, uma nova entrada do bairro que procura resgatar sua história. 

 

Da praça do Alto da Lapa atravessa-se o muro que separa os dois bairros. De manhã, pode-se descer para a plataforma da estação vendo o sol nascer. No fim da tarde gosto de pensar nas pessoas parando um pouco antes de descer e tomando um sorvete na praça da estação para ver o sol se pôr nos trilhos. Ou então de pensar nos encontros dos moradores na continuidade da passarela ou no mirante da cobertura do museu de onde se pode ver todo o casario da Vila Anastácio. Descendo as escadas por dentro do museu, somos convidados a, no final do percurso, uma espécie de túnel vertical que nos conta a história daquele lugar através dos panos de vidro, entrar no museu e saber mais detalhes sobre o bairro, e ver o que está exposto de perto, levar fotografias de família, histórias, sugestões, fazendo da memória do bairro uma memória sempre viva. Para os que não se interessam, estão cansados, carregam muitas coisas, estão de bicicleta, ou para os dias de chuva, é possível descer também por meio dos elevadores, que saem da frente das bilheterias da estação, sem parada na plataforma, e chegam nas lojas, bares e restaurantes que acompanham uma nova rua projetada, rua esta que faz frente para o espelho d’água que se espraia do canal, onde pousa o museu.

 

imagens:

 

1. Planta geral da cidade de São Paulo. 1905. Fonte: http://smdu.prefeitura.sp.gov.br/historico_demografico/img/mapas/1905.jpg

 

2. Máscara do Rio Tietê da década de 1930 (SARA) sobre foto aérea de 2014

 

3. Fotografia tirada da estação de trem Domingos de Moraes nos anos 1940. Ao fundo é possível ver a ferrovia, o Braço morto do Rio Tietê, chamado de Rio Velho,  que foi aterrado e onde foi construida o pátio de caminhões da Sadia; hoje já demolida, o casario da Vila Anastácio e em último plano as oficinas da S. P. R. Fonte: https://www.facebook.com/vilaanastacio/photos_stream?tab=photos_albums

 

4. Muro ao lado da estação de trem Domingos de Moraes, vista da Vila Anastácio ao fundo.

 

5. Muros ao lado estação de trem Domingos de Moraes, vista do Alto da Lapa ao fundo. Terreno do Projeto em primeiro plano.

 

6. Perspectiva à mão do projeto feita por Raul Aguiar.

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